sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Entrevista com Maurício Maestro


BATe PaPO CONVERSãO CAvAQUeIRA & TAGaRELiCE
Com Maurício Maestro 





O músico carioca Carlos Maurício Mendonça Figueiredo (10/05/1949), o Maurício Maestro, além de exímio cantor , ótimo baixista e competente compositor, é craque inconteste dos arranjos vocais da MPB. Com o seu grupo, o  Boca Livre, em carreira solo ou em duo, Maurício Maestro esteve de corpo e alma em momentos históricos da música popular brasileira, desde os tempos dos festivais de música na televisão.
No cafezinho na cozinha da Escola de Choro e MPB Brasil com S no bairro Serra, BH - entre uma aula e outra que Maurício vem ministrando na Escola  essa semana - o simples, solícito e genial músico,  me revelou que torce  pro Fluminense,gosta de ver o futebol bem jogado mas nunca teve fôlego pra praticar.Já jogou basquete à sério quando adolescente mas desde então não se aventura mais nos esportes e se dedica exclusivamente à suas habilidades musicais.
Em entrevista ao Blog Du Macedo- que surrupiou cerca de oitenta minutos do horário de almoço do músico nessa quarta feira, 19/11 (e um pequeno complemento na manhã de quinta, 20/11 )- Maurício falou do tempo em que tocava violão escondido, questionou o próprio talento pra música,revelou que sua casa na infância era frequentada por “medalhões” da música brasileira e que no início da carreira, à convite de Aloysio de Oliveira, poderia ter sido precursor da guitarra elétrica na MPB.

Fala ainda da sua carreira internacional, dos 36 anos de sucesso com o grupo Boca Livre, de Bossa nova, do emblemático Festival da Record de 1967, do Clube da Esquina, e de seus maiores parceiros e influências musicais...

Blog Du Macedo- Maurício, queria que você falasse um pouco da sua primeira infância na Tijuca, no Rio de Janeiro?
Maurício Maestro- Eu morava numa casa na Rua Açoriano de Souza, fiquei lá até uns quatro anos e meio. Era uma rua muito tranquila, fechada... não tinha saída, não passava carro...aí resolveram passar uma avenida exatamente no lugar que tinha minha casa.A casa foi desapropriada ,aquela coisa toda, e tivemos que nos mudar pro Flamengo.Até fiz uma música que diz: lá onde eu nasci agora passa uma avenida, que fala dessa perda de referência que eu tinha, que eu acho bacana ter, mas infelizmente a casa onde eu nasci não tem mais...Eu nasci em casa,não nasci em hospital.Minha mãe deu a luz lá em casa mesmo,meu pai foi buscar o médico...aquela coisa assim, aquela relação com a casa que já era...Aí fui pro Flamengo onde morei a maior parte do tempo e tô  lá até hoje lá.Gosto daquela região. Minha referencia da casa na Tijuca é pequena.Tenho lembranças mas foi por muito pouco tempo.Meu crescimento já foi fora de lá.
Blog Du Macedo - Como era no Flamengo? Seus pais ,embora não profissionais ,tinham forte relação com a musica,sua mãe tocava piano ,seu pai também era compositor?
Maurício Maestro – Sim. Minha mãe tocava piano, meu pai (tocava) violão e compunha...A partir deles comecei a me relacionar no meio musical com o pessoal da velha guarda, o Lamartine Babo , Luiz Vieira...
Blog Du Macedo - Eles frequentavam a sua casa?
Maurício Maestro - Frequentavam.Isso era muito comum na época, ter reuniões musicais que as pessoas iam.As vezes tinham reuniões com mais gente, mas as vezes era só  um que ia visitar e ficava.Mas a coisa de música rolava sempre,eu era pequeno ainda e ficava só vendo,né? Na infância era uma coisa muito variada, ainda não tinha uma preferência muito definida da música, mas geralmente tudo que escutava era coisa boa, tinha o hábito de ouvir coisa boa... foi formando uma certa base de aceitação da musica...vai privilegiando coisas boas.Me lembro que quando eu era garoto tinha o disco  Rapsódia in blue do Gershwin que eu colocava exaustivamente...


Blog Du Macedo - Quantos anos você tinha nessa época?
Maurício Maestro -Tinha seis,sete,no maximo oito...
Blog Du Macedo -Isso já no apartamento do Flamengo?
Maurício Maestro -Sim, mas em outro...eu morei em três apartamentos.Isso foi na época do segundo apartamento. E o terceiro era apartamento já próprio, comprado,onde tinham mais essas reuniões...eu tinha uns nove anos...Depois o pessoal da bossa nova ia lá, Menescal ,Carlinhos Lyra, Oscar Castro Neves,Baden Powell chegou a ir algumas vezes, Luiz Carlos Vinhas (pausa)... Bebeto do Tamba Trio...era a turma que ia sempre e ia pra tocar a música mesmo...Ninguém ia pra ficar paquerando...o negócio era a música e todo mundo tocando e o pessoal ouvindo,mostrando... ah eu fiz essa música!Olha só que bacana! Aí todo mundo queria aprender, como é que era.Era um negócio assim muito interessante... eu era garoto mas já tinha uma ideia, de onze anos, a impressão que eu gostava da música... mas antes era uma coisa meio distante... pensava ,isso é uma coisa que eu quero fazer.Comecei a gostar da música pra poder começar a entender e querer fazer alguma coisa...a partir daí eu comecei a pegar o violão escondido,eu era muito tímido, não queria que ninguém soubesse que eu tava tocando violão ,mas nas horas vagas que eram muitas, na hora que não tinha ninguém em casa, levava pro quarto, ou então na sala mesmo, e ficava horas tentando tirar os acordes.Mas não tinha técnica, nunca estudei técnica de violão nem contrabaixo, as coisas vieram mais da parte de eu procurar reproduzir coisas que eu ouvia, foi assim meu aprendizado básico.
Blog Du Macedo -Com qual idade você resolveu seguir pelo caminho da musica?
Maurício Maestro - Ahh...Já com  uns dezesseis pra dezessete...porque o meu talento grande era pra desenho. Negócio da musica é...sei lá se eu tenho talento pra musica...(pensativo) eu tinha pra desenho... desde garoto desenhava muito! Realmente todo mundo ficava:olha como ele desenha e num sei o quê.Musica foi um negócio que eu comecei a tentar a fazer, mas não sei, talento pra música...(?) Desde cedo já são virtuoses...Talvez o meu talento da música se manifeste na coisa de querer perseguir uma ideia.As ideias que eu quero seguir, meu gosto musical, pode ser que isso seja o meu talento,com as ferramentas poucas que eu tenho eu tento conseguir reproduzir as ideias...pra isso talvez eu tenha talento.E tive sorte também porque tive contato com mestres fantásticos...
Blog Du Macedo -O Bebeto (Tamba Trio) foi quem te levou pro meio profissional?
Maurício Maestro -Foi.Por acaso meus pais foram padrinho de casamento dele... a primeira esposa dele era afilhada da minha avó... então eu  o conhecia de família.Mais tarde quando ele (Bebeto) soube que o filho do Geraldo e da Lurdinha tava fazendo musica ele se interessou.E eu já tinha o grupo ,com o pessoal da escola, que depois virou o Momento Quatro... agente foi lá mostrando as músicas e ele adorou... a partir desse momento ele chamava agente pra ir na casa dele(pequena pausa)...morava na Tijuca... pra ouvir as coisas, botava as musicas legais, interessantes, e musicas que ele tava tocando... Agente saia lá da Tijuca e ia lá pro Leme, fim de noite...eu já tinha mais idade um pouquinho e podia tomar um chopinho...ele levava a gente pras quebradas noturnas e mais tarde ele me apresentou ao Luizinho (Eça) que era um mestre, um grande cara!
Blog Du Macedo -Você depois teve um grupo com o Luizinho Eça?
Maurício Maestro - Mais tarde... a gente frequentava as casa das pessoas...eram abertas.Então eu ia lá assistir ao ensaio do Tamba ( trio) e chamavam pra ir lá...vai ter um grupo de pessoas reunidas... aí eu comecei a fazer parte do grupo das pessoas que iam nas casas, antes eu tava na casa onde as pessoas iam.Eu comecei a ir nas coisas.E engraçado como foi rápido,mas isso tudo motivado pelo interesse e fazendo parte de um grupo de pessoas que tinham o mesmo interesse e... capacidade também,né? Nesse período (duas palavras inaudíveis na transcrição) a construção da cabeça musical foi uma coisa lenta, mas sempre privilegiando o lado da busca da ideia, do som ,mais do que o desempenho técnico.Mais a ideia, composição ,arranjo, harmonia...Eu fui mais pra esse lado.
Blog Du Macedo -Como surgiu o nome Mauricio Maestro?
Maurício Maestro Um nome sarcástico! (rsrs) ...Eu faço arranjo.Maestro mesmo de formação , de regência ,eu não sou.realmente necessita um grau de estudo grande, e eu não tenho essa parte formal.Claro que eu sei reger meus arranjos... sei comandar principalmente em gravação. Ao vivo é outra coisa.É mais complicado a orquestra... é como um cavalo que precisa ser domado... mas pra gravação que as  coisas são mais organizadas, reger as cordas ou um quarteto, isso aí não é problema.A minha função maior sempre foi  pensar o negocio de arranjo, a arquitetura do arranjo.Engraçado que quando eu  fiz meus primeiros arranjos pra antiga gravadora Odeon...
Blog Du Macedo –(interrompendo) O primeiro arranjo que vc fez foi para o disco do Milton (Nascimento)?
Maurício Maestro -Sim, fiz um arranjo pra uma musica do Nelsinho (Nelson Ângelo) que participou da elaboração do arranjo...
Blog Du Macedo – Desculpe...voltando ao nome artístico.
Maurício Maestro – Mas quando trabalhei na Odeon, saia na contracapa do disco (os créditos): arranjos: maestro Paulo moura, maestro Luiz Eça , maestro Mauricio Mendonça.E eu deixei, fazer o quê?Quem sou eu pra discutir... As pessoas diziam: eu quero falar com Maurício.Que Maurício? O Maestro. Aí quando o Boca Livre começou o pessoal falou põe maestro logo,foi pressão externa(rsrs)

Blog Du Macedo -Vamos falar dos tempos do Momento Quatro?...Em 1967 você estava presente na noite, talvez a mais emblemática na história da MPB.Como foi  o sentimento de estar ali defendendo a musica vencedora do festival?
Maurício Maestro -Olha, quando eu penso no desenrolar da historia eu vejo como as coisas acontecem rápido.Eu me lembro que dois anos antes eu estava assistindo em casa e não tinha nada relativo a musica diretamente, não tinha um grupo com quem reunir...1965 com Arrastão, 1966 com Disparada e A banda...nessa época de  1966 eu já tinha começado a entrar em contato com o Bebeto e o pessoal ,e o Momento Quatro já existia como (formação(?) uma palavra inaudível)... a gente já ensaiava se encontrava e começou a encontrar pra mostrar músicas pras pessoas.A gente começou a cantar junto sem saber que ia ser um quarteto. Depois que a gente resolveu fazer.Temos um quarteto, habemos quarteto, né?...Um grupo chamava alguma coisa. Aí na época tinha MPB 4, 004 , Agora Quatro , num sei que lá quatro...
Assista ao filme Uma Noite em 67!

Blog Du Macedo Quarteto em Cy? (nada a ver...bola fora do Blog)
Maurício Maestro Era outra praia, vozes femininas...Mas enfim, num sei que lá Quatro.Momento Quatro.Virou Momento Quatro.Em 1966 a gente tava na fase de só ensaiar e fazer musica, querer cantar junto... no comecinho de 67 a gente fez a primeira aparição em um lugar... uma apresentação em que vários artistas participavam...a gente cantou uma musiquinha num negócio desse...não me lembro nem como a gente chegou lá... e a partir disso a gente passou a ter contato com as pessoas, que foi importante pra gente na época.Pessoal do Quarteto em Cy... a Regina Werneck  fazia parte (do Quarteto em Cy)  e tinha um programa de rádio... e ela convidou agente pra ir no programa... e depois fomos com ela no ensaio do Quarteto com o Oscar Castro Neves e o Aloysio de Oliveria.E a gente foi pra mostrar músicas pra eles,quer dizer, pra elas,né?foi logo no comecinho de 1967...a gente foi lá mostrar.Perguntamos,que tal? (responderam) Gostamos das musicas sim mas quem tem que gravar são vocês. Aí o Aloysio Oliveira, produzia a Elenco (gravadora) virou e disse: vocês podiam usar umas  guitarras, fazer um negócio diferente... isso no começo de 67.Não tinha Gil,Caetano..Na época a gente não achava que as músicas eram adequadas pra esse tipo de coisa...a gente não embarcou na ideia...Mas ele já havia lançado (passa um carro barulhento,pequeno trecho inaudível)...mas poderíamos ter sido os precursores dessa onda toda...era uma coisa meio chorinho, uma coisa meio baião,um negócio de embolada do Noel Rosa e o Três apitos (Noel Rosa), mas agente conseguiu com que ele fizesse a produção  e o Oscar Castro Neves fizesse os arranjos... gravamos um compacto na Philips ,com contrato e tal, e a partir desse contrato com a Philips... uma das pessoas que trabalhavam lá era o Fernando Lobo,pai do Edu lobo, e ele ouviu , e sugeriu que a gente participasse do Ponteio no festival. Mas as coisas andaram muito rápido.Voltando agora a sua pergunta...a participação no festival...aquela noite (rs)...Ao mesmo tempo que foi uma coisa rápida foi uma coisa  natural.A gente já tinha tido contato com a maioria das pessoas que estavam no festival, já tava se sentindo no meio ,as coisas aparecendo, a gente conseguia absorver as novidades de uma forma muito tranqüila,né?Foi uma coisa que veio vindo, rapidamente,foi  crescendo e naquele momento realmente foi um momento histórico por varias coisas que aconteceram, mas também não foi um negócio que surgiu derrepente... não é aquela noite. Aquela noite foi o cume de uma coisa que já vinha...o festival era feito com quatro eliminatórias... a cada mês, eram doze músicas apresentadas e classificavam quatro.As músicas eram inéditas. A partir do momento que elas eram apresentadas... todas as músicas já tinham sido gravadas nas suas gravadoras por um artista original ou por alguém do casting da gravadora.As músicas eram lançadas por discos da Philips, Odeon, da CBS e senão me engano, RGE.Era uma coisa assim...e as pessoas começavam a ouvir as músicas, tocar no rádio, os artistas apareciam na televisão, principalmente as músicas classificadas. Mas não só. As músicas classificadas iam formando um bolo.A cada eliminatória somava mais quatro até que a última eliminatória que era mais próxima do final ,as músicas perdiam em tempo de execução mas ganhavam em ineditismo, como aquele cavalo que atropela no final.Então a coisa da torcida pelas músicas era mais pelo gosto musical mesmo... não era uma coisa criada.Que vinha realmente todo um bloco, fazendo parte de uma estrutura, que favorecia as músicas aparecerem .Era uma coisa que vinha... As rádios tocavam ,as televisões apresentavam,faziam programas musicais todo dia. Então era assim.Tinha o festival da Globo quando apareceu o Milton, no mesmo ano...um pouco depois...tinha muita coisa.No festival da Record, que a gente participou,teve Caetano ,Chico ,Edu...
Blog Du Macedo Roberto Carlos.
Maurício Maestro -Roberto Carlos... a música não era dele...mas tava lá.tinha Dori Caymmi, com o cantador, Sidney Miller,que ganhou a melhor letra...
Blog Du Macedo -Sérgio Ricardo, Vandré.
Maurício Maestro -Sérgio Ricardo...não era a melhor coisa dele...(pausa) Uma que não foi classificada foi Eu e a Brisa do Jhony Alf , que é a mais executada de todas! Duvido que tenha havido outra que tenha sido mais cantada que Eu e a brisa... Não foi classificada,tava lá nas 36.Ela não  era chamada “música de festival”(faz o gesto das aspas). Era aquela música que ia pegar aos pouquinhos como foi...Mas então tinha toda essa turma mas não tinha o Milton porra!(muitos rsrs)
Blog Du Macedo –(rsrs) E depois dessa época veio o Clube da esquina?
Maurício Maestro -Existia o fato, mas entidade Clube da esquina só depois.Só no álbum Clube da esquina foi apresentado como um produto... já havia antes o movimento porque o pessoal que tocava com o Milton já formava esse clube.Tocavam,faziam letra a turma toda.A quantidade de coisa que ainda continua sendo referência hoje em dia,né?
Blog Du Macedo-Sua estréia como baixista foi de cara com o Luiz Eça no A Sagrada Família?
Maurício Maestro- Foi.Em 1969.Depois de terminar o Momento Quatro, depois dos festivais, eu comecei a fazer arranjo com o Marcos Valle, da música Mustague cor de sangue...trabalhei com ele mas não como baixista.Comecei a tocar baixo... eu gostava do baixo... com o Nelsinho Ângelo... com o Naná (Vasconcelos), umas gravações...toquei num festival com a Joyce em 68 um arranjo que o Luiz Eça fez,no Maracanãzinho. Aí comecei a tocar baixo...nesse momento o Tamba tinha dado uma parada... ou se desfeito... e o Luizinho tava procurando grupo.Eu e Nelsinho vivíamos na casa do Luizinho que se aproximou naturalmente da coisa... e ele começou a experimentar a gente tocando e foi dando certo...

 Ouça a obra prima Mistérios de Maurício Maestro e Joyce interpretada por Milton.

Blog Du Macedo - E sua parceria com a Joyce?
Maurício Maestro -Conheço a Joyce desde sempre...a gente começou fazendo muita coisa desde o Momento Quatro, a Joyce tava sempre ao lado...a gente chegou a cantar juntos nos festivais e era uma pessoa que tava sempre no grupo (pausa...)Quando ela me chamou pra fazer o trabalho com o Vínicius (de Moraes) em Punta Del Este, em 1975, (a banda) era eu,o Rubinho Moreira,né?, baterista,mineiro...de Zé Brandão ...mineiro de Caeté...Caeté é a terra do Zé Brandão (força um sotaque mineiro)...e agente foi lá tocando com o Vinicius... passamos uma temporada grande...A Joyce cantando e tocando violão,eu no baixo, e o Rubinho de Batera...(buscando na memória)...Quando a gente voltou de lá ,a gente (ele e Joyce) tava namorando,assim... começou a também trabalhar juntos,começou a fazer músicas juntos e tocar coisas,né?Nós fazíamos,como se fosse um duo... fazíamos bastante coisas,com duas vozes mais a parte instrumental e nesse período de 75, 76 e até o meio de 77, a gente fez um bocado de shows no Rio... aí viajamos pra Europa em 76 e lá encontramos o Naná Vasconcelos e mostramos o trabalho que a gente tinha  pra ele... ele disse: poxa, vocês têm que gravar isso... e ele conseguiu um estúdio lá na frança,em Paris, de um amigo dele e a gente gravou rápido ,em três dias gravou tudo, tava super ensaiado ,né? E o Naná também já fazia parte da turma lá há muito tempo, então gravou rápido ,mas ficou inédito o disco! ficou pronto e inédito até 2009 quando o produtor da Faroutrecs Records, Joe Davis, soube e resolveu perguntar: pô e aí cadê?...eu tinha um (fita)  dat mixado e eles remasterizaram e lançaram...foi um puta sucesso! E aí depois disso ele resolveu fazer um disco comigo...e o Naná...fizemos um disco, já mixado e outro gravado,mas tá por lançar...mas aí, com a Joyce, quando a gente viajou pra Nova Yorque também tocamos... aí com um grupo que tinha o Hélcio Milito (do Tamba trio,falecido em junho desse ano) numa boite brasileira que tava inaugurando, e depois e que acabamos nos separando e tudo, mas depois chegamos a gravar um trabalho nosso lá ainda,que ainda não saiu também!Com arranjos do Klaus orgemann, falta ainda finalizar...tem coisas ,solos do Michael Brecker( saxofonista norte americano) arranjo de cordas ,orquestra de cordas,pesado...mas acabou que depois, a gente voltando,deu uma esfriada mesmo nas coisas...a gente acabou não trabalhando mais juntos... e nesse tempo surgiu a ideia de fazer um grupo vocal com o David Tigel que era do Momento Quatro e nessa aí a gente começou a chamar as pessoas ,veio o Zé Renato,ele trouxe o Claudio Nucci e acabou formando o Boca Livre 
 Veja o clipe de Quem tem a viola, Boca Livre.

Blog Du Macedo -Em 1979?
Maurício Maestro -Não em 78, o disco é que é de 1979.
Blog Du Macedo -Entendi...
Maurício Maestro -A gente começou a gravar com muitas pessoas ,gravamos um disco do Vital Lima que era produzido pelo Hermínio Bello de Carvalho, gravamos várias coisas e depois com o Milton,no Clube da Esquina numero dois, a música Mistérios...e logo depois com o Edu Lobo, que foi o cara que realmente deu um  grande impulso na nossa carreira...que a gente fez um show chamado camaleão que a gente participava, e depois excursionamos com ele pelo projeto Pixinguinha...
Blog Du Macedo -O segundo momento com o Edu Lobo na sua carreira ?
Maurício Maestro - Exatamente.
Blog Du Macedo -e do David(Tigel) também,né?
Maurício Maestro - Do David também...(pausa) Antes do Boca Livre começar a fazer com o Edu,ele já tinha me chamado desde a época do ....(pausa) eu me esqueci de falar que no final da excursão com o Vinícius a gente foi lá pra Buenos Aires e lá teve a participação especial do Edu...foi um reencontro deles (Edu Lobo e Vinicius de Moraes)... não se viam há algum tempo... e saí de lá também com esse trabalho com a Joyce, mas, tocando com o Edu... a gente formou uma banda que eu era não só o baixista mas também arranjador ,de algumas coisas.Ele me chamou pra produzir o disco dele Limite das águas de 76 e foi nesse meio tempo também,e dali quando eu voltei de Nova Yorque e comecei no Boca Livre, ele (Edu Lobo) também tava formando uma banda, e eu tocando com ele... trouxe o Boca Livre, os levei lá na casa dele, e o David começou a tocar também,naquele tempo tinha um negócio de viola que ele queria e ele começou a fazer....depois veio o Boca Livre e foi fundamental porque a partir dos shows com o Edu a gente apareceu.Ninguém conhecia o Boca Livre e foi realmente uma experiência que deu pra gente a certeza que a gente podia gravar um disco inteiro legal, porque a experiência de público que agente teve durante os shows com o Edu eram absurdas assim de receptividade,né? É isso, depois a gente gravou o disco...
Blog Du Macedo - O LP Boca Livre?
Maurício Maestro - Isso, que é de 79... depois em 80 gravamos o Bicicleta(lançado em 1981) e em 81 gravamos outro disco ,o Folia.
Blog Du Macedo - O Boca Livre foi influenciado pelo Clube da Esquina... até mesmo na escolha do repertório.E a Bossa Nova, entrou bastante também?
Maurício Maestro -Os dois estilos são perfeitos pra vocal.As músicas do Clube da Esquina são altamente boas pra vocal!A Bossa Nova tem uma característica de mais suavidade, a interpretação é mais contida,a harmonia predomina,e a parte rítmica brasileira também, mas é tudo mais suave na interpretação.O Clube da Esquina já incorporou certos elementos pops que davam uma pegada um pouco mais...(pausa) Dá pra soltar um pouco mais a voz, ao mesmo tempo mantendo uma coisa harmônica muito forte,muito boa,sofisticada,mas jogada um pouco mais pra fora, saindo um pouco da coisa contida da Bossa Nova.Assim juntou um outro tipo de elemento .O Clube da Esquina é uma nova síntese,colocando na roda coisas que não eram presentes na época da Bossa Nova.
Blog Du Macedo -Beatles por exemplo?
Maurício Maestro -Exatamente. No inicio já colocaram,não que fosse predominante mas já entrou.Aí a partir da segunda leva ,do Lô (Borges), Beto (Guedes),isso já entrou com predominância mesmo,e depois o pessoal do 14 Bis ... (pausa pra atender o telefone celular)
Blog Du Macedo -E os novos projetos?
Maurício Maestro - O Boca Livre continua,então continuo sempre tenho  o Boca Livre como uma referência importante...
Blog Du Macedo São quantos anos de estrada (do Boca Livre)?
Maurício Maestro -36 anos...com algumas interrupções mas continua na luta (rs).
Blog Du Macedo -Qual a formação atual?
Maurício Maestro -A mesma da segunda formação, Zé Renato , Lourenço (Baeta)David(Tigel) e eu.
Blog Du Macedo – E agora?  A carreira do Maurício Maestro?
Maurício Maestro -Eu continuo fazendo arranjos, pra pessoas que me pedem.Tenho desenvolvido coisa das aulas , que não era minha principal ocupação.Estive nos últimos anos dividindo o tempo entre Rio de Janeiro e Nova Yorque.Fico morando uma parte do tempo lá com minha esposa Kay Lira (filha de Carlos Lyra) que tem um trabalho baseado na Bossa Nova.(Ela é) Uma cantora muito sutil como a Bossa Nova é.Gravei dois discos dela,fiz os arranjos também...E a gente passou morando entre os EUA e o Rio nos últimos quatro anos.Agora ela tá mais  lá, dando aulas, fazendo os trabalhos dela, e eu tenho estado mais aqui por causa do Boca Livre...a gente tá momentaneamente um pouco afastado, mais cada um fazendo as suas coisas e sempre que pode estando juntos também...Eu não desisti de procurar também o mercado exterior que é uma coisa importante também.Eu vi que tem muito interesse na música brasileira, no Boca Livre, muita gente conhece, músicos e não músicos, meu trabalho solo e outras coisas.Vida que segue.
Blog Du Macedo -E o segundo projeto solo?
Maurício Maestro -Já esta gravado e mixado só falta o lançamento(rs) ...Tem a participação da Kay em algumas faixas nos vocais, mas a maior parte sou eu cantando mesmo.Faço violões e baixo, o Naná (Vasconcelos) percussão, e é um trabalho bem autoral, composições minhas ...só uma que é do meu filho (Fran Sartori). O Naná faz um solo vocal!Música é uma coisa aberta.Tô sempre disponível para perguntar o que vem por aí,mas acho que a principal coisa é a ideia da música centrado na qualidade e ir atrás, sobreviver,né?
Blog Du Macedo -Uma curiosidade minha. Entre baixista,cantor,arranjador e compositor? Como você se considera mais competente?
Depende pra o que você quer na coisa. Meu melhor instrumento improvisador é a voz. Meu instrumento idealizador é o violão.Agora o melhor instrumento pra sair tocando por aí é o baixo.Agora o melhor instrumento...sei lá qualquer coisa (rsrs) ,cada um  tem sua hora!

(Entrevista concedida em 19/20 de novembro de 2014 ao Blog Du Macedo, na Escola Brasil com S em Belo Horizonte).

 Discografia Mauricio Maestro
  • (2013) Amizade (Boca Livre) – Independente/Universal Music - CD
  • (2000) Boca Livre e 14 Bis-Ao vivo • Indie Records • CD
  • (1998) Boca Livre convida:20 anos • Indie Records • CD
  • (1996) Americana • Velas • CD
  • (1995) Song Boca • Velas • CD
  • (1992) Dançando pelas sombras • MP,B/Warner • CD
  • (1989) Boca Livre em concerto • Som Livre
  • (1982) Folia • PolyGram • LP
  • (1981) Bicicleta • Independente • LP
  • (1979) Boca Livre • Independente
  • (1968) Momento4uatro • Philips • LP
  • (1967) Glória • Philips • Compacto Duplo

6 comentários:

  1. Cara, muito bom mesmo! Riquísima entrevista, gostei de saber dessa parceria dele com o Naná, quando sair quero escutar. Parabéns pelo trabalho e a transcrição.

    Abraços,
    Paulo Mariano

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  2. Gostei da dinâmica, Du ;)
    Espero que rolem outros papos como esse!
    Rafael Macedo

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